Padre Allan Junio Ferreira 21284x
Assessor Espiritual do CNB
A festa da Visitação de Nossa Senhora é para nós vicentinos motivo de grande alegria! Maria reveste-se de uma profunda humildade quando deixa para trás as suas preocupações e a sua própria vida para servir a sua prima Isabel que estava grávida. Esse gesto de Maria é um exemplo de como a visita aos pobres deve ser feita com urgência missionária.
O relato da visitação de Nossa Senhora a sua prima Isabel se encontra no Evangelho de Lucas 1, 39-56. Nestes versículos encontramos o que é de mais fundamental na vivência cristã: o amor como serviço aos pobres. Se lemos com atenção a narrativa da visitação, percebemos que Maria se coloca como uma servidora, sempre atenta as necessidades do próximo. Não podemos nos esquecer que antes de Maria partir, apressadamente, para visitar sua parenta, ela mesma havia recebido uma notícia que mudaria a sua vida completamente: seria mãe pela graça do Espírito Santo (cf. Lc 1, 26-38). Que mulher não ficaria impressionada e até mesmo amedrontada com tamanha notícia? A jovem de Nazaré também se preocupou, questionou o anjo como aconteceria tudo isso, mas aceita a missão com generosidade e dá o seu sim maternal. É nesta visita do anjo que Maria descobre que também a sua prima estava grávida e inspirava cuidados devido a sua idade avançada.
Maria parte apressadamente para servir, não pensa nela mesma e em sua própria gravidez. Não coloca objeções antes de tomar um caminho difícil até a casa de Isabel. Não deixa para depois o serviço da caridade e se doa totalmente na missão de ser um auxílio necessário na vida de alguém que precisava da sua atenção e cuidado. O Evangelho ainda nos diz que Maria ficou três meses na casa de Isabel e depois voltou para casa (cf. Lc 1, 56). A visita foi sem pressa. Maria permaneceu ali enquanto durou a gestação de Isabel e só retornou quando percebeu que a sua prima já não precisava mais dela.
O que nós vicentinos podemos aprender com a Visitação de Nossa Senhora?
1 – A visita aos pobres deve ser uma prioridade. O sentido da missão e vocação vicentina é o serviço aos pobres e este transparece na visita aos assistidos e a tantos pobres que necessitam da nossa ajuda. É na visita que encontraremos a razão da nossa vocação e o sentido de todo o nosso trabalho. A visita não pode ser um apêndice na vida do vicentino, ou seja, algo sem muita importância e que se faz apenas de modo protocolar, sem vida, sem espiritualidade e sem amor.
2 – A visita aos pobres é uma experiência mística! Quando vamos aos pobres, vamos a Deus. São Vicente de Paulo e Antônio Frederico Ozanam fizeram a experiência de ver Deus na pessoa dos mais pobres e deixam para nós essa herança espiritual. Os pobres nos evangelizam e nós podemos levar a eles mais do que o alimento material, mas o testemunho carismático de uma vida de serviço e doação, sendo presença transformadora naquela casa.
3 – A visita aos pobres é uma troca de experiências e saberes. Quantas vezes nós nos surpreendemos na visita aos assistidos, quando demonstram uma profunda experiência de vida capaz de nos emocionar? Quantas vezes nós participamos da história e da intimidade das famílias que nos recebem e ao final nos agradecem com tudo aquilo que podem oferecer? Quantas vezes nos assustamos com a capacidade de superação de uma família que vive com o mínimo, mas dão o máximo de si para não desanimarem? A visita aos pobres deve ser um lugar de acolhida, testemunho, partilha e escuta.
4 – A visita aos pobres é um encontro transformador. Quando nos deixamos tocar pela história do pobre, percebemos que a nossa própria história é transformada. Lembramos que Maria permaneceu na casa de Isabel durante três meses e ali, certamente, ouviu muitas histórias e participou da história pessoal de Zacarias e Isabel. Não teve pressa para ir embora. Só retornou quando tinha terminado a sua missão. Nós também devemos participar da história daqueles que estão diante de nós, pois desde o momento em que abrem as portas para nós, permitem com esse gesto, que participemos das suas próprias histórias.
Que a Festa da Visitação de Nossa Senhora renove em nós o compromisso vocacional de serviço e amor aos mais pobres. E aprendamos com ela a sermos verdadeiros visitadores que não apenas vejam as necessidades dos outros, mas visitem, ou seja, deixem-se envolver pela história de vida de tantos que estão a nossa volta e se coloquem a disposição de transformar a vida de muitos pobres que esperam por nós.